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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

"Champagne" para todos!


Para Hitchcock, esse foi o pior filme de sua autoria. Ele diz que alguém sugeriu um filme cujo título fosse Champagne e ele imaginou um início de filme bastante fora de moda, mas que lembrava um pouco o velho filme americano de Griffith – Way down East: a história de uma moça que vai para uma cidade grande. Sua idéia era mostrar essa garota que trabalhava na cidade francesa de Reims, a capital do champagne, fechando com pregos as caixas de espumante e vendo as caixas serem transportadas em trens sem ela nunca ter bebido. Em seguida, ela iria para a cidade e acompanharia o trajeto do espumante, as boates, as noitadas, beberia e no final voltaria para Reims, onde retomaria seu serviço e já não teria mais vontade de beber champagne. Segundo o próprio Hitchcock, ele abandonou a idéia pelo seu aspecto moralista.



A história filmada é a de Betty, filha mimada e rebelde de Mark, empresário milionário do ramo de espumantes, que, sem a autorização do pai, cruza o oceano num hidroavião para encontrar o namorado que está abordo de um navio em pleno Atlântico rumo a Paris. Seu pai desaprova o namoro alegando que o rapaz está interessado somente no dinheiro da família e, conhecendo a filha que tem, pede a um amigo se aproximar de Betty para vigia-la.

Diante da insistência de Betty em se casar com o rapaz, Mark forja a própria falência a fim de afastar o moço. O noivado é desfeito mas não por isso, e sim por ele não aceitar o comportamento tão independente e esnobe dela, o que faz com que a moça acredite na teoria do pai.  Apesar de tudo, Betty tenta se adaptar a nova situação: cuida do pai e do apartamento minúsculo em que vão morar, cozinha e arruma um emprego de vendedora de flores em um cabaré de luxo.




O amigo de Mark, pai de Betty, se finge de cliente do cabaré para  continuar a vigia-la. Sentado à mesa, observando a moça ele pede  um drink, um Maiden’s prayer cocktail. É como se ele estivesse bebendo e rezando pedindo  a proteção da donzela da qual foi incumbido de tomar conta.
Indignado com seu trabalho num lugar “indecente”, o rapaz procura Mark que, também chocado, confessa que mentiu sobre a perda da fortuna, sobre o amigo que a vigia e aprova seu casamento.
Champagne não foi bem recebido em seu lançamento, apesar do elenco bastante popular. A produção era rica. Desfrutava de um orçamento razoável para os padrões da época: contava com várias  cenas dentro de um navio e dezenas os figurinos luxuosos nos cenários dos grandes salões. 


  



 Além disso, não se pode ignorar as inventividades visuais de Alfred Hitchcock: os primeiríssimos planos da garrafa de espumante sendo aberta, as cenas vistas através da taça no início e no final, a sequência do navio onde ele usa o movimento da câmera para fazer o balanço e transmitir a idéia de enjôo e do enquadramento, somente nas pernas, na cena em que Betty é roubada na rua.



Com relação ao alimento como elemento dramático é um dos filmes mais ricos do período mudo da carreira de Hitchcock. Começando pelo titulo do filme: champagne até hoje é sinônimo de sofisticação e luxo. É uma bebida festiva, como a vida que Betty levava. 


No restaurante do navio, a mesa montada parece as de Antonin Carême, o cozinheiro dos reis da França.  Com essa montagem simétrica, o  movimento de câmera tirando tudo do eixo,  faz com que o espectador tenha a sensação de balanço do navio.



Quando chegam a Paris, a cidade é uma festa. Estamos ainda nos anos 20 e com a lei seca nos EUA surge as misturas de bebidas: era o auge da coquetelaria. Betty, moça independente , prepara seu próprios coquetéis.




Apesar das tentativas, a moça se mostra inútil pois não consegue preparar nem um prato de comida “descente” pra o pai. Na primeira tentativa ela coloca a comida à mesa serve o pai com muito orgulho, fazendo o pai acreditar que seu plano está funcionando, mas quando ele vê a fatia de carne, ele a recusa. Então, Betty serve os pães que também havia feito. Aparentemente estão ótimos, brilhantes, com aspecto de bem assados. O pai não acredita que foi ela quem os fez e aceita, mas ao tentar cortá-los não consegue, tenta morder e também não consegue. Por fim, desiste e diz: “Não estou com muita fome hoje.” Sai e a deixa sozinha. 




Nesse momento, Hitch corta da carne preparada por Betty para uma mesa com toalha de linho, talheres e travessas de prata, taças de cristal, champagne e alguém finalizando uma refeição. Abre o quadro e é o pai de Betty que, ao recusar comer a comida da filha, foi satisfazer suas necessidades e desejos em um restaurante do tipo ao qual ele estava acostumado. Esse contraponto reforça a idéia de pobreza e riqueza que Hitchcock quer deixar bem claro ao longo da narrativa. 





Em outro momento, o mais engraçado do filme, e que foi já utilizado em um episódio da extinta TV Pirata transmitido pela Rede Globo no final dos anos 80, é o contraponto entre cozinha e salão do restaurante do cabaré onde Betty trabalha. Nesse estabelecimento luxuoso, o maitre recebe clientes e  descreve, com muita formalidade, os pratos do cardápio para um casal. Hitchcock faz um corte para a cozinha. Ele mostra o cozinheiro, de avental todo sujo, partindo um frango com as mãos. Um garçom chega com uma cesta de pães vazia para ser reposta. O cozinheiro larga o frango pega uma porção de pão com as mesmas mãos e joga no cesto de maneira que alguns pães vão parar no chão. O garçom pega o pão que está no chão, chacoalha, limpa o resto da sujeira na roupa e o recoloca no cesto que será servido. Corta para esse mesmo pão sendo servido, a um comensal à mesa, com uma pinça de prata. Pois é, do lixo ao luxo em apenas alguns frames.

Mainden’s prayer cocktail






Ingredientes:
1 dose de gim
1 dose de contreau
2 colheres (sopa) de suco de limão
1 colher (chá) de suco de laranja

Preparo:
Coloque todos os ingredientes em uma coqueteleira com gelo,
misture, coe e sirva em um copo de coquetel.







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